Na semana passada, li no Twitter o desabafo da autora Andresa Rios, dividindo sua tremenda decepção depois de ser convidada por uma editora para publicar seu livro, só para, no final da reunião, ser informada que ela teria que custear a publicação. O tuíte dela gerou uma repercussão e muitos comentários. Gostei muito do fio da Beatriz d’Oliveira, editora de aquisição da Rocco, e da Babi Dewet, autora do conto “Outono”, em Um ano inesquecível.
Sei bem o tamanho da decepção da Andresa, porque meu original também foi selecionado por uma editora, mas, no meu caso, eu não teria que custear a edição, mas sim garantir uma venda mínima no período de pré-venda e, caso não atingisse a meta estabelecida no contrato, eu teria que comprar a quantidade definida por eles.
Assim que recebi o e-mail, murchei e passei para a minha agente, Mia Roman, que confirmou o que eu já sentia. Um tempo depois, vi o tuíte da Andresa e resolvi escrever sobre asse assunto aqui na Newsletter e Mia disse o seguinte:
Acho importante alertar sobre o sistema predatório que algumas editoras que cobram para publicar praticam. Porque, na verdade, o que a gente tem que manter em foco é que o autor é a parte mais fraca dessa relação contratual de direitos autorais. Uma coisa é o autor que quer seu livro impresso e paga por isso, e a relação é clara entre as partes. Outra coisa é o sistema predatório em que o autor precisa prender o seu livro na editora com condições que preveem o pagamento por parte do autor. E, na verdade, é o autor que tem que ser pago para escrever.
(Mia Roman)
Cada escritor e cada escritora precisa definir a sua estratégia e a forma como quer levar seu livro ao mundo. Só que, para tomarem decisões inteligentes, precisam de informações. E esse é o meu objetivo aqui.
Como as editoras escolhem o que vai ser publicado?
Uma coisa que a maioria das pessoas tem dificuldade de entender é que a editora é um negócio que está em busca de lucro e que o livro é o produto que comercializam.
Desse modo, cada editora determina a linha editorial que vai seguir e busca obras nacionais e estrangeiras que se encaixem no perfil definido. É um processo cuidadoso de curadoria e pesquisa , que envolve profissionais como editores de aquisição, agentes literários, scouts, feiras de negócios, leilões e muitas leituras para escolherem o que vão publicar.
O mercado editorial brasileiro ainda publica muitas obras estrangeiras, porque elas já provaram seu sucesso lá fora, e isso serve um pouco como garantia para as editoras. Aqui tem uma análise muito interessante que o Carreira Literária fez dos números do nosso mercado.
Acho que deu para perceber o quanto é difícil fazer seu original, por melhor que seja, por mais contatos que você tenha, chegar a uma editora. E, quando consegue, ele entra numa fila de materiais que serão avaliados.
Até um passado bem recente, o único modelo existente para se publicar o livro era o tradicional. Mas, felizmente, as coisas estão mudando e novos caminhos e novas possibilidades se abrindo.
Modelo tradicional
Como eu disse, até pouco tempo atrás, esse era o único modelo disponível.
Uma editora que segue o modelo tradicional arca com todos os custos de publicação da obra. Para ficar bem claro: o autor não precisa desembolsar nenhum centavo.
O autor entra com o que podemos chamar de “capital intelectual” e a editora entra com o “capital financeiro”, cobrindo todos os custos envolvidos. Essa negociação envolve um contrato de exclusividade de publicação no qual fica definido que o autor ganhará uma porcentagem do preço de capa (em geral algo entre 8% e 12%, mas isso varia de caso a caso), e o restante é dividido entre editora, distribuidora e livraria ou ponto de venda.
Editoras como Companhia das Letras, Record, Rocco, Globo, Intrínseca, Sextante, HarperCollins, Nova Fronteira, entre outras, seguem exclusivamente esse modelo.
E esse é o modelo dos sonhos da maioria dos escritores.
Na verdade, meu livro está sendo analisado por quatro editoras tradicionais e estou na torcida para ser aprovado por uma delas💜
Modelos não tradicionais
Autopublicação
Uma das maravilhas que a tecnologia trouxe foi o formato digital, ou e-book, que é uma ótima opção para o autor se autopublicar de forma totalmente independente, assumindo todos os aspectos do processo, desde a escrita e a edição até a publicação e a divulgação.
Isso pode ser feito por meio de plataformas de autopublicação, como Amazon Kindle Direct Publishing (KDP), Kobo entre outras.
Embora o autor possa simplesmente criar uma capinha no Canva e pegar seu arquivo de Word e subir para a plataforma, aconselho que seja feito um investimento com leitura crítica, revisão, diagramação e contratação de um designer para fazer a capa. (Como editora, eu realmente acredito que todo livro precisa passar por todas as etapas do processo editorial, as quais descrevi na Newsletter #08).
A vantagem desse modelo é que a porcentagem que o autor ganha é maior do que ganharia em um modelo tradicional. Por exemplo, o KDP oferece duas opções de royalties: 35% e 70%. Se você pretende publicar nessa plataforma, sugiro que pesquise os dois modelos e escolha o que melhor se encaixe na sua estratégia.
A desvantagem é que o autor fica sozinho e sobrecarregado com todo o árduo trabalho pesado de divulgação e marketing para conseguir que seu livro chegue aos leitores e não fique perdido nos milhares de e-books disponíveis nas plataformas.
Não é um trabalho fácil, mas é possível. O mercado independente está crescendo e tem autores que, embora não estejam expostos nas livrarias e não tenham livros impressos, são best-sellers e se sustentam com a própria escrita.
Impressão sob demanda
Para quem não abre mão de ter o livro impresso, uma boa opção é o POD (print on demand), ou impressão sob demanda.
Até bem pouco tempo atrás, só existia a possibilidade de impressão offset, que, para ser viável, exigia grandes tiragens, o que, por sua vez, exigia um lugar de armazenamento dos exemplares.
Com o advento da impressão digital, agora é possível imprimir pequenas tiragens de acordo com a demanda. Esse modelo tem se mostrado popular entre os escritores independentes, pois reduz os custos iniciais e os riscos associados à impressão em larga escala.
Hoje em dia, existem empresas que prestam serviços de publicação sob demanda que permitem que os autores independentes publiquem suas obras em formato impresso e digital. Esses serviços incluem disponibilização dos títulos nos pontos de venda e livraria virtuais, impressão dos exemplares apenas quando são solicitados e envio para o cliente, eliminando a necessidade de estoque e logística. Em troca, eles retêm uma porcentagem das vendas. E um ponto importante, o autor pode cancelar o serviço a qualquer momento.
Plataformas de escrita on-line
Esse tipo de plataforma permite que o autor vá publicando seu livro à medida que o escreve. É uma forma de ir testando a receptividade do seu texto, pois o autor pode interagir com os leitores e até mesmo receber doações ou remuneração direta pelos seus trabalhos.
Nunca usei a plataforma, mas sei que alguns escritores foram descobertos por editoras tradicionais a partir do seu trabalho no Wattpad.
Editoras independentes
Uma editora independente é uma empresa que não faz parte de um grande grupo ou conglomerado editorial. Geralmente são de menor porte e costumam se concentrar em nichos específicos, como romances românticos, fantasia, romances policiais, ficção científica, contos, não ficção especializada, entre outros. Elas tendem a valorizar a diversidade, a experimentação literária e a voz autoral.
As editoras independentes têm desempenhado um papel importante na indústria editorial, dando voz a escritores emergentes, apoiando obras literárias distintas e contribuindo para a diversidade e pluralidade na literatura.
Muitas dessas editoras, embora pequenas, operam seguindo o modelo tradicional de publicação, tanto em termos contratuais quanto na seleção de títulos de acordo com sua linha editorial e a qualidade do livro, ou seja, não cobram do autor para publicá-lo.
No entanto, existem algumas editoras independentes que, mesmo que sigam critérios editoriais para escolher seus títulos levando em conta critérios editoriais definidos, cobram um valor do autor para publicá-lo, seguindo o modelo “vanity press”, que vou descrever a seguir.
Modelo “vanity press” ou de prestação de serviços
Nesse modelo, o autor paga para ter sua obra impressa e publicada, ou seja, é ele que assume parte ou a totalidade dos custos associados à produção, impressão e distribuição do livro.
A cobrança do autor pode vir de diferentes formas, desde a compra direta de um determinado número de exemplares a preço de capa, passando por garantia de venda de um determinado número de exemplares, até um preço cheio que cobriria todos os custos.
Como eu disse na seção anterior, existem editoras independentes que operam com esse modelo, mas seguem critérios editoriais para aprovar ou não uma obra. Nesse caso, não basta ter o dinheiro, a obra passa por um processo de análise e aprovação até que a proposta seja enviada ao autor. Podemos dizer que foi o que aconteceu com a aprovação do meu original e o convite da Andresa Rios, que citei no início da Newsletter.
No entanto, existem também editoras que publicam livros sem nenhum critério editorial. Se o autor pagar, não importa o gênero da sua obra, nem a qualidade do seu texto, ele será publicado.
Esse modelo, na minha opinião, apresenta muitas desvantagens em relação à autopublicação, pois o autor acaba tendo menos controle sobre o processo editorial e pode enfrentar desafios para alcançar um público mais amplo, já que a distribuição, embora exista, pode ser limitada. Além disso, como o autor arca com os custos de produção, pode ser difícil recuperar o investimento financeiro, uma vez que os contratos preveem que ele só vai receber os tradicionais 8%-12% de direito autoral.
Além disso, quando você assina um contrato que segue esse modelo, sua obra vai ficar presa pela vigência do contrato, que pode variar de 2 a 8 anos, mesmo que você não esteja feliz com o resultado do trabalho.
Conclusão
Todo autor sonha em ter seu livro publicado por uma casa editorial. Hoje, posso dizer que o meu maior sonho é receber uma mensagem da Mia dizendo que uma das editoras que está analisando meu livro resolveu contratar.
Confesso que meu coração quase parou quando recebi o e-mail de aprovação do meu original, o qual submeti para a editora em fevereiro em uma chamada de originais, sem saber que eles operavam com o modelo de “vanity press”. Quando comecei a ler as condições, minha empolgação foi murchando.
Como já atuo no mercado editorial há muitos anos, sei como ele funciona e conheço contratos de publicação, considerei os termos uma forma disfarçada de cobrar pela edição.
Meu conselho para qualquer escritor ou escritora que receba um convite ou uma provação de original que siga o modelo vanity press é que faça uma pesquisa. Entre no site da editora, veja qual é a linha editorial que segue e se você enxerga seu livro ali. Veja quem são os autores e tente entrar em contato pelas redes sociais para perguntar se estão satisfeitos. Vá às livrarias e procure livros dessa editora. Eles estão disponíveis, estão expostos?
E, antes de terminar, um conselho da Mia:
Os autores devem ir atrás de uma consultoria legal antes de assinar um contrato. Isso quando tem contrato, porque eu já vi editora que nem tem contrato. Tudo é feito tudo por e-mail e aí não tem nenhuma validade legal se houver algum problema ou se a editora não cumprir suas obrigações. Então, é mais a questão do autor se proteger legalmente nesse processo todo, ainda que ele decida publicar usando esse modelo.
(Mia Roman)
A minha intenção nesse post é simplesmente mostrar para os autores os modelos existentes, suas características, vantagens e desvantagens antes de tomar uma decisão.
Por fim, divido com vocês a minha opinião. Para a minha estratégia, os modelos que fazem sentido são o tradicional, seja por editora grande ou por editora independente, e o de autopublicação, porque, se for para investir meu dinheiro, quero ter controle do processo e de como o dinheiro vai ser gasto e como a obra vai ser trabalhada.
Nat indica
Eu sou daquelas que lê de tudo, tanto por gostar, quanto por causa da minha profissão. Eu me apaixonei por este livro juvenil:
Um ano inesquecível, de Paula Pimenta, Babi, Dewet, Bruna Vieira e Thalita Rebouças, foi adaptado para o audiovisual pela Amazon. O livro traz quatro histórias leves que abordam questões da adolescência de maneira delicada e, ao mesmo tempo, profunda. Não tem como não se identificar.
Uma outra indicação é que sigam profissionais do mercado editorial e autores nas redes sociais. Vou deixar linkadas as redes sociais da Beatriz d’Oliveira, da Andresa Rios, da Babi Dewet, da Mia Roman e do Carreira Literária, que foram citadas nesta Newsletter.
O que vem por aí…
Como disse para vocês, esse mês de julho vai ser intenso por causa das aulas de tradução. Realmente não faço ideia do que vou escrever para a Newsletter da semana que vem. Se quiserem deixar sugestões, eu aceito.
Termino agradecendo muito por continuarem me acompanhando por aqui.
Beijo grande e até semana que vem 😘
É uma decisão difícil para os autores e autoras tomarem. Eu decidi optar pela autopublicação, e espero que no próximo mês, meu livro esteja disponível no KDP. Boa sorte com as editoras!
Sobre as plataformas de escrita online, você conhece outras para indicar, além do Wattpad?