#8 O que faz um editor?
Quem me acompanha por aqui já sabe que, além de escritora e tradutora, sou editora também.
E hoje eu quero falar um pouco sobre esse meu lado mais desconhecido.
Nat Editora
Comecei a trabalhar como assistente editorial na Editora Campus no dia 1o de agosto de 2000 e saí em março de 2006, quando estava voltando da licença-maternidade.
Lá eu era responsável pelo editorial de livros de informática e livros-texto.
Depois de um período como tradutora freelancer, em 2009, fui trabalhar no Gen | Grupo Editorial Nacional como editora de projetos especiais, também no segmento CTP (científico técnico e profissional). Fiquei lá até 2014, quando resolvi sair e abraçar totalmente o meu lado tradutora.
Uma das coisas peculiares que percebi enquanto trabalhava como editora era que a maioria das pessoas não faz a mais pálida ideia do que um editor faz. A primeira confusão já começa no nome da profissão/cargo, porque isso varia de editora para editora. Algumas chamam de produtor editorial, outros de editor de produção, tem aquelas que criam cargos e hierarquias também: gerente, coordenador, supervisor, analista, assistente editorial. Independentemente do nome, parece que, para as pessoas em geral, o que esse profissional faz é um mistério.
Mas vou tentar explicar resumidamente nesta Newletter, referindo-me a esse profissional de tantos nomes como “produtor editorial”.
Agora vamos ao que interessa: como se faz um livro?
As etapas editoriais
São inúmeras as etapas pelas quais o texto passa até chegar às mãos do leitor, e o produtor editorial é o responsável por coordenar todo o processo. Para explicar cada uma das fases, gosto de fazer uma analogia com o mercado de joias. Acho que essa inspiração vem do fato de meu avô ter sido um excelente lapidador.
Para esta Newsletter, vou considerar a edição de um livro estrangeiro. Nesse caso, o trabalho começa quando o produtor editorial envia o livro para a tradução. Se fosse um livro nacional, a primeira etapa é a de copidesque/preparação de originais.
Tradução
A escolha do tradutor pelo produtor editorial é uma etapa importante, porque envolve muitos detalhes. Além dos conhecimentos linguísticos, o produtor editorial também precisa confiar muito nesse profissional, pois ele será o profissional autônomo que passará mais tempo com o livro (em geral de dois a quatro meses, mas podendo chegar a um ano, dependendo do tamanho e da complexidade do original).
O grande desafio do tradutor é passar para o idioma de chegada (no nosso caso, o português) as ideias do autor da obra original da forma mais fiel possível, tanto em termos de forma quanto de conteúdo, sempre buscando as melhores palavras e estruturas linguísticas para o livro, respeitando o estilo do texto, a terminologia, as figuras de linguagem e as escolhas do autor, mas nunca se esquecendo de que o texto deve ficar bem escrito na nossa língua, soando natural para o nosso leitor.
Costumo dizer que o tradutor é como um minerador em busca de diamantes e pedras preciosas. É um trabalho árduo e duro, e a qualidade final do texto depende completamente dessa etapa. Ou seja, se o tradutor enviar um diamante bruto, o texto final tem grandes chances de ser uma joia de primeira linha. Se, em vez disso, ele entregar pedras de carvão mineral, é bem provável que o produto final seja um texto pobre, sem valor, que não condiz com o original, por melhor que seja o trabalho dos demais profissionais. Sem uma boa matéria-prima, o produto final não consegue chegar à qualidade máxima.
Copidesque ou preparação de originais
Depois que o texto é traduzido, o produtor editorial o envia para o copidesque, ou seja, o revisor de redação ou preparador de originais. Ele revisa todo o texto resolvendo questões de padronização, coesão textual, repetições, redundâncias etc., além de corrigir possíveis erros gramaticais e identificar possíveis saltos de tradução.
Esse profissional é como se fosse o lapidador. Ele é o responsável por moldar cada uma das facetas da pedra, buscando aprimorá-la e refiná-la.
Validação do copidesque
Em seguida, o texto volta para as mãos do produtor editorial, que avalia todo o trabalho que foi realizado: aceita ou recusa as intervenções do copi, aprimora o texto, resolve dúvidas e pendências. É como se ele estivesse acertando as arestas e dando um novo polimento à pedra para que ela possa seguir para o designer.
Projeto gráfico de miolo e capa
Quando o texto está pronto para a próxima etapa, a de paginação, o produtor editorial começa a pensar no formato da obra e, para isso, entra em contato com um designer, que apresenta layouts para as páginas internas do livro (o miolo) e para a capa, sugere fontes de boa leitura e tamanho adequado. Esse profissional trabalha em conjunto com o produtor editorial para que cheguem a um modelo, considerando o estilo da obra, o público-alvo e o formato do livro. É como se ele estivesse desenhando a joia para que o ourives crie a estrutura que receberá a pedra.
Diagramação
Essa é a etapa que o texto finalmente deixa o Word e é exportado para um software chamado InDesign. É nesse momento que o original começa a ficar com cara de livro, pois é distribuído nas páginas e chegará ao seu formato final. O paginador é o ourives que monta a estrutura de metal precioso para a colocação das pedras lapidadas e polidas.
Revisão tipográfica
Quando o livro está todo paginado, é necessário que o texto passe por novas revisões, chamadas tipográficas, para verificar se ainda ficou algum erro no texto. Em geral, as editoras trabalham com duas revisões, que sempre voltam para a mão do produtor editorial, que confere todos os detalhes finais da obra. É como se fosse um controle de qualidade do modelo montado pelo ourives e uma conferência do designer para ver se todas as especificações foram seguidas.
Inserção e conferências de emendas
Todas as correções apontadas são feitas pelo diagramador e conferidas pelo editor ou por um revisor. É como se a estrutura de metal e as pedras estivessem recebendo novos polimentos e outras arestas são acertadas.
Gráfica
Quando, por fim, o arquivo é considerado final, ele segue para a gráfica, na qual as páginas são impressas, dobradas, costuradas e coladas e a capa é colocada. No nosso paralelo com o mercado de joias, seria a colocação da pedra na estrutura de metal para seguirem para as joalherias.
Da gráfica, os exemplares seguem para o depósito da editora e, depois, são distribuídos paras as livrarias, prontinhos para chegarem às mãos dos leitores.
Enfim…
Essa é uma explicação bem resumida das etapas editoriais. Espero que tenha ajudado a entender o longo caminho que um texto percorre desde que sai das mãos do autor/tradutor até se transformar em livro e chegar ao leitor.
Diz aqui para mim se você fazia ideia que o livro tinha um percurso tão longo.
Nat indica
Hoje minha indicação vai ser um pouco diferente.
A construção do livro, de Emanuel Araújo, é uma obra que explica todo o processo editorial, do começo ao fim. A minha edição é antiguinha, ainda da Nova Fronteira. Essa nova parece estar soberba e eu recomendo demais para quem tem interesse em conhecer mais o processo editorial.
O que vem por aí…
Vocês já sabem que eu escrevo o que me dá na telha na semana. Então, nunca sei ao certo o que prometer, então vou deixar uma pesquisa aqui.
A ideia na opção 1 é falar sobre os cursos de escrita que fiz e que me ajudaram muito a terminar o meu livro, trazendo pontos positivos e negativos de cada um.
Na opção 2, penso em fazer uma reflexão se sou uma fraude por ser uma mentora que precisa de mentora, uma leitora crítica que precisa de uma leitora crítica.
Votem aí.
Mas, se você tiver alguma sugestão de assunto, pode deixar nos comentários. Vou adorar porque, como vocês já perceberam, acho superdifícil decidir os assuntos.
Termino agradecendo muito por você estar me acompanhando 😀
Se você ainda não é inscrito, aproveita para fazer isso agora e mergulhar um pouco no meu caos.
Beijo grande e até a próxima! 😘
A cada 3 meses eu me pergunto se sou uma fraude em tudo kkkkkkkkk
Muita gente realmente não sabe o trabalhão que é fazer um livro. Eu aprendi com você!