#3 Desafio cara a tapa
Escrever um livro é desafiador porque mergulhamos fundo em nós mesmos e acessamos lugares que nem sabíamos que existiam. É um processo emocionante, muitas vezes dolorido e sofrido, mas, ao mesmo tempo, fascinante e revigorante.
Colocamos muito de nós ali, mesmo que a história não seja sobre nós.
Por isso, é muito comum que escritores sintam medo de mostrar o que escreveram para outra pessoa, que protelem ao máximo entregar seus textos para alguém ler por medo do julgamento, das suposições que vão fazer a respeito deles e até da própria vulnerabilidade resultante de colocar tantos sentimentos e tantas emoções no papel.
Nesse sentido, eu me considero uma escritora diferente porque sinto necessidade de ser lida, mesmo quando o texto ainda está longe de estar pronto, mesmo quando ainda estou tateando a história para descobri-la. Eu diria inclusive que preciso ser lida para continuar meu processo de escrita.
No dia 01 de maio, comecei a escrever meu segundo romance, Quando tudo mudou (título provisório), e já mandei, no dia seguinte, o primeiro rascunho das quatro primeiras laudas para o “Desafio cara a tapa” do Carreira Literária.
E levei uma surra, é claro. (Cliquem aqui para ver)
Brincadeiras à parte, o feedback da Flávia e da Andressa me mostrou que a história que eu pretendia escrever como uma novela precisa ser contada de uma forma mais lenta e que tem fôlego para ser um romance.
Então, assim que acabou a live, eu peguei o meu capítulo 1 e comecei a reescrevê-lo com calma sem me apressar para contar a história, sabe? E estou ficando muito feliz com o resultado.
Jardineira X Arquiteta
O arquiteto planeja tudo antes de começar, e o jardineiro joga umas sementes e as rega tendo uma vaga ideia de onde quer chegar.
Acho que vocês já devem ter sacado que minha essência é de jardineira.
Eu vou escrevendo loucamente em um fluxo contínuo, sem pensar muito. A desvantagem disso é que, depois, tenho um trabalho intenso de revisão para podar os excessos, reescrever trechos, incluir o que ficou faltando.
Para vocês terem uma ideia do trabalho de poda e reescrita de uma jardineira é que A história por trás de cada beijo, meu primeiro romance (ainda não publicado), tem 145 laudas. O original passou por várias podas e lapidações que deixaram um saldo de 100 laudas que não foram usadas e várias ideias que nem chegaram a ser digitadas.
O grande risco de uma escritora jardineira é empacar na história ou se perder nela.
Lógico que eu não só empaquei no meu primeiro livro, como me perdi na história e precisei dar uma parada. Só consegui retomar quando aceitei que eu precisava ser minimamente arquiteta. Que eu não podia deixar os personagens correrem soltos para onde quisessem ir.
Mas vou confessar para vocês: é muito difícil domar a jardineira que existe dentro de mim. Eu me esforço para fazer um planejamento. Faço uma escaleta linda, mas, quando dou por mim, estou semeando de novo. (Não me julguem, pls!)
Autoconhecimento
Além de ser uma jardineira quase indomável, uma outra característica que tenho é um processo criativo de interlocução.
Eu preciso falar sobre a história. Começo a me referir aos personagens como se de fato existissem e eu estivesse contando uma fofoca sobre eles.
A minha sorte é que tenho dois irmãos maravilhosos que me entendem e me deixam contar e recontar a história na qual estou trabalhando um milhão de vezes. Além de me escutar, eles dão ideias e dão vários conselhos para os personagens.
Lembro de uma vez que escrevi uma mensagem de WhatsApp para eles dizendo:
“Vocês não sabem o que a Clarissa aprontou dessa vez!”
E o meu irmão:
“Conta tudo, menina”
Tem como não amar? 😍
Também tenho um grupo lindo de escritoras apelidado carinhosamente de “Aduldetes” porque escrevemos o que o mercado chama atualmente de “New Adult”. É um espaço de trocas intensas, uma dando a mão para outra no processo de escrita. Elas são demais 💜
Mentoria
Quando eu estava mais ou menos na metade da escrita do História por trás de cada beijo, eu empaquei porque criei um personagem cuja função narrativa era ser um escroto, mas acabou virando um psicopata que dominou totalmente a história, transformando-a em uma coisa que não era uma comédia romântica. Foi tenso.
Dei uma parada na escrita e tentei, várias vezes, resolver a questão, mas não consegui.
Foi quando resolvi contratar uma mentoria para me entender melhor, e isso foi fundamental para domar a jardineira que existe dentro de mim, criar uma arquiteta rudimentar e me dar um canal de interlocução. O resultado foi que consegui contar A história por trás de cada beijo da melhor forma possível, depois de escritas, reescritas e muitas podas.
Eu não poderia estar mais feliz com o resultado.
Medo de julgamentos
Eu já disse que eu não tenho medo de mostrar o meu texto, mas eu escolho para quem mostrar. Porque é óbvio que tenho medo de julgamentos.
A mentoria que fiz foi on-line em conjunto com quatro outros autores maravilhosos.
Lembro que teve um dia que me senti insegura, não estava satisfeita com o texto e estava me achando uma fraude.
Bem naquele dia, as mentoras pediram para eu ler um trecho com o qual eu não estava satisfeita e, pela primeira vez, me senti muito vulnerável diante do grupo. Minha vontade foi de pedir para não ler. Mas, respirei fundo, fiz uma cara de “está tudo ótimo” e li o texto diante da câmera, para as outras seis pessoas (duas mentoras e quatro autores).
Foi uma prova de fogo para mim. Achei que eu fosse chorar. A voz tremeu em alguns pedaços.
Bem nessa época, eu estava com a sensação de que meus colegas me achavam uma idiota por estar escrevendo uma comédia romântica. No meu pensamento negativo daquele instante, imaginei que todos pensavam: “ah, uma velha escrevendo a história de uma garota com menos da metade da idade dela”. (Olha o etarismo nosso de cada dia aê! - escrevi sobre isso no post anterior)
Enfim, foi um dia bem ruim, mas necessário para minha formação de escritora e para me preparar para todos os tapas que levei depois disso e os que ainda vou levar.
Porque, quando digitamos “Fim” no nosso arquivo, é o início de outra jornada, que envolve se jogar para o mundo sem medo de ser feliz ou de levar uma surra.
Mas isso é assunto para o próximo post, no qual vou contar a minha jornada de busca para uma casa editorial para o meu livro e a experiência incrível no Rio2C, o maior evento de criatividade da América Latina.
Aproveitem e já se inscrevam na Newsletter para saberem tudinho que aconteceu por lá.
Antes de me despedir
Imagino que vocês já saibam que eu amo uma boa comédia romântica. Seja nas telonas, nas telinhas ou nas páginas de um livro.
Vou deixar aqui duas indicações de leitura desse gênero, mas antes, vou pedir para deixarem um comentário aqui para mim.
Nat indica
Vou começar pela minha leitura atual que me pegou de jeito e me fez me apaixonar por uma autora que eu só conhecia de nome: Emily Henry
Leitura de verão (de Emily Henry e tradução de Cecília Bartalotti) é um “enemies to lovers” perfeito. Eu amei ainda mais porque os protagonistas são escritores. Sério, só leiam!
Te devo uma (de Sophie Kinsella e tradução de Natalie Gerhardt, euzinha mesmo) é uma comédia romântica que traz uma protagonista fofa, perdida na vida e explorada pela família e mostra seu processo de autoconhecimento e empoderamento. Amo, amo, amo!
O filme Harry e Sally, feitos um para o outro é simplesmente a minha comédia romântica favorita de todas. Acho que todo mundo que é fã do gênero já deve ter assistido, então, a minha dica é “assistam de novo” e fiquem com o coração quentinho.
Beijo grande e até semana que vem!
Nat
Adoro comédia romântica. É como higiene mental :)
Acho que sou uma escritora paisagista: vai planejando como quer o jardim e plantando enquanto vai escrevendo. Planeja uma compra de sementes, mas só vai ter o resultado depois que colocar a mão na massa.